Em toda a região da América Latina, o crescimento do PIB está praticamente estagnado, pouco acima de 2%, de acordo com a CEPAL.
Charles W. Thurston, correspondente para a América Latina03.31.25
A forte demanda brasileira por tintas e revestimentos cresceu 6% em 2024, praticamente dobrando o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do país. Nos anos anteriores, o setor geralmente superava o crescimento do PIB em um ou dois pontos percentuais, mas no ano passado essa proporção se acelerou, segundo um relatório recente da Abrafati, Associação Brasileira dos Fabricantes de Tintas.
“O mercado brasileiro de tintas e revestimentos encerrou 2024 com vendas recordes, superando todas as previsões feitas ao longo do ano. O ritmo de vendas se manteve forte durante todo o ano em todas as linhas de produtos, elevando o volume total para 1,983 bilhão de litros — 112 milhões de litros a mais que no ano anterior, representando um crescimento de 6,0% — superando até mesmo a taxa de 5,7% de 2021, ano considerado atípico pelo setor”, relatou Fabio Humberg, diretor de comunicação e relações institucionais da Abrafati, em um e-mail para a CW.
“O volume de 2024 — de quase 2 bilhões de litros — representa o melhor resultado da série histórica e já fez do Brasil o quarto maior produtor mundial, ultrapassando a Alemanha”, observou Humberg.
Crescimento regional praticamente estagnado
Em toda a região da América Latina, o crescimento do PIB está praticamente estagnado, pouco acima de 2%, segundo a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) das Nações Unidas. “Em 2024, as economias da região expandiram-se em cerca de 2,2%, e para 2025, o crescimento regional é projetado em 2,4%”, estimaram os analistas da Divisão de Desenvolvimento Econômico da CEPAL no Panorama Preliminar das Economias da América Latina e do Caribe, divulgado no final de 2024.
“Embora as projeções para 2024 e 2025 estejam acima da média da década, o crescimento econômico permanecerá baixo. O crescimento médio anual para a década de 2015 a 2024 é de 1%, o que indica um PIB per capita estagnado durante esse período”, observou o relatório. Os países da região enfrentam o que a CEPAL denominou “armadilha da baixa capacidade de crescimento”.
O crescimento sub-regional tem sido desigual, e essa tendência continua, sugere a CEPAL. “Em nível sub-regional, tanto na América do Sul quanto no grupo que compreende o México e a América Central, as taxas de crescimento desaceleraram a partir do segundo semestre de 2022. Na América do Sul, a desaceleração é mais acentuada quando o Brasil é excluído, já que esse país impulsiona a taxa de crescimento do PIB sub-regional geral devido ao seu tamanho e melhor desempenho; o crescimento depende cada vez mais do consumo privado”, observa o relatório.
“Essa fraca previsão sugere que, no médio prazo, a contribuição das economias da América Latina e do Caribe para o crescimento global, expressa em pontos percentuais, será quase reduzida à metade”, indica o relatório.
A seguir, os dados e as condições para os principais países da América Latina.
Brasil
O forte aumento no consumo de tintas e revestimentos no Brasil em 2024 foi impulsionado por um crescimento econômico geral de 3,2% no país. A previsão do PIB para 2025 é mais lenta, de 2,3%, segundo projeções da CEPAL. As projeções do Banco Mundial são semelhantes para o Brasil.
Por segmento da indústria de tintas, o desempenho do Brasil foi forte em todos os setores, liderado pelo automotivo. “Houve crescimento em todas as linhas de produtos da indústria de tintas e revestimentos [durante 2024], mais notavelmente em revestimentos para montadoras de veículos, que veio na sequência de um forte aumento nas vendas de automóveis”, disse Abrafati.
As vendas de veículos novos no Brasil, incluindo ônibus e caminhões, registraram um aumento de 14% em 2024, atingindo o maior patamar em 10 anos, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). O volume de vendas anual chegou a 2,63 milhões de veículos em 2024, recolocando o país na oitava posição do ranking mundial, de acordo com a organização. (Veja CW 24/01/2025).
“Os revestimentos de repintura automotiva também registraram um crescimento de vendas de 3,6%, devido tanto ao aumento nas vendas de carros novos – o que afeta as vendas de carros usados e os gastos com reparos em antecipação a essas vendas – quanto ao maior nível de confiança do consumidor”, observou Abrafati.
As tintas decorativas também continuaram apresentando ótimo desempenho, com um volume recorde de 1,490 bilhão de litros (um aumento de 5,9% em relação ao ano anterior), calcula Abrafati. “Um dos motivos para esse bom desempenho das tintas decorativas é a consolidação de uma tendência de pessoas cuidando de suas casas, transformando-as em um lugar de conforto, refúgio e bem-estar, tendência que se mantém desde o início da pandemia”, sugeriu Abrafati.
“Além dessa tendência, há um aumento na confiança do consumidor, já que os consumidores sentem que têm maior segurança no emprego e na renda, o que é fundamental para que decidam investir em uma nova pintura para suas propriedades”, explicou Luiz Cornacchioni, presidente executivo da Abrafati, na nota.
Os revestimentos industriais também apresentaram forte crescimento, impulsionados por programas de desenvolvimento governamentais iniciados no final de 2023 sob a presidência de Luiz Inácio Lula da Silva.
“Outro destaque de 2024 foi o desempenho dos revestimentos industriais, que cresceram em volume mais de 6,3% em relação a 2023. Todos os segmentos da linha de revestimentos industriais apresentaram alto crescimento, principalmente graças às fortes vendas de bens de consumo duráveis e aos avanços em projetos de infraestrutura (estimulados por fatores como o ano eleitoral e os contratos concedidos ao setor privado)”, observou a Abrafati.
A infraestrutura é um foco fundamental do Programa de Aceleração do Novo Crescimento (Novo PAC) do governo, um plano de investimento de US$ 347 bilhões destinado a projetos de infraestrutura, desenvolvimento e meio ambiente, que visam desenvolver todas as regiões do país de forma mais equitativa (Veja CW 11/12/24).
“O Novo PAC envolve uma forte parceria entre o governo federal e o setor privado, estados, municípios e movimentos sociais em um esforço conjunto e comprometido em prol da transição ecológica, da neoindustrialização, do crescimento aliado à inclusão social e da sustentabilidade ambiental”, afirma o site da presidência.
Os maiores participantes do mercado de tintas, revestimentos e adesivos (CÓDIGOS NAICS: 3255) incluem estes cinco, de acordo com a Dunn & Bradstreet:
• Oswaldo Crus Química Indústria e Comércio, com sede em Guarulhos, estado de São Paulo, com vendas anuais de US$ 271,85 milhões.
• A Henkel, com sede em Itapevi, no estado de São Paulo, teve um faturamento de US$ 140,69 milhões.
• Killing S/A Tintas e Adesivos, com sede em Novo Hamburgo, Rio Grande do Sul, com vendas de US$ 129,14 milhões.
• Renner Sayerlack, com sede em São Paulo, com vendas de US$ 111,3 milhões.
• Sherwin-Williams do Brasil Indústria e Comércio, com sede em Taboão da Serra, estado de São Paulo, com vendas de US$ 93,19 milhões.
Argentina
A Argentina, vizinha do Brasil no Cone Sul, está prestes a registrar um forte crescimento de 4,3% este ano, após uma contração de 3,2% em 2024, em grande parte consequência das políticas econômicas drásticas do presidente Javier Milei. Essa projeção do PIB feita pela CEPAL é menos otimista do que a previsão do Fundo Monetário Internacional de um crescimento de 5% para a Argentina em 2025.
Espera-se que um período de recuperação do mercado imobiliário na Argentina impulsione a demanda por tintas e revestimentos arquitetônicos (Veja CW 23/09/2024Uma mudança fundamental na Argentina é o fim do controle de aumentos de aluguel e prazos de locação no mercado imobiliário residencial. Em agosto de 2024, Milei revogou a Lei de Locação de 2020, instituída pelo governo anterior.
administração de esquerda.
A reforma dos apartamentos que retornaram ao mercado aberto poderá impulsionar o setor de revestimentos arquitetônicos, elevando-o a um valor de quase US$ 650 milhões até o final de 2027, após um crescimento a uma taxa composta de crescimento anual (CAGR) de cerca de 4,5% durante o período de cinco anos entre 2022 e 2027, de acordo com um estudo da IndustryARC.
As maiores empresas de tintas e revestimentos da Argentina, segundo a D&B, incluem:
• Akzo Nobel Argentina, com sede em Garín, província de Buenos Aires, vendas não divulgadas.
• Ferrum SA de Cerâmica e Metalurgia, com sede em Avellaneda, Buenos Aires, com vendas de US$ 116,06 milhões por ano.
• Chemotecnica, com sede em Carlos Spegazzini, Buenos Aires, vendas não divulgadas.
• Mapei Argentina, com sede em Escobar, Buenos Aires, vendas não divulgadas.
• Akapol, com sede em Villa Ballester, Buenos Aires, vendas não divulgadas.
Colômbia
A CEPAL prevê a recuperação do crescimento na Colômbia em 2025, com uma taxa de 2,6%, em comparação com 1,8% em 2024. Isso será um bom presságio, principalmente para...
segmento arquitetônico.
“A demanda interna será o principal motor do crescimento nos próximos dois anos. O consumo de bens, que apresentou uma recuperação parcial em 2024, deverá expandir-se fortemente em 2025 devido às taxas de juros mais baixas e ao aumento da renda real”, escrevem os analistas do BBVA em uma previsão para o país, divulgada em março de 2025.
O desenvolvimento de infraestrutura, que está começando a ganhar impulso, também aumentará a demanda por revestimentos industriais. Grandes projetos, como o novo aeroporto de Cartagena, têm previsão de início de construção no primeiro semestre de 2025.
“O foco do governo em infraestrutura, incluindo transporte, energia e infraestrutura social (escolas e hospitais), continuará sendo um pilar central da estratégia econômica. Projetos significativos incluem expansões de rodovias, sistemas de metrô e modernização portuária”, relatam analistas da Gleeds.
“O setor de obras civis continuou surpreendendo ao crescer 13,9% no segundo trimestre de 2024, em sua série sazonalmente ajustada, após cinco trimestres consecutivos de contração. No entanto, permanece o setor com o pior desempenho em toda a economia, estando 36% abaixo dos níveis pré-pandemia”, acrescentam os analistas da Gleeds.
Os maiores players do mercado, segundo o ranking da D&B, são os seguintes:
• A Companhia Global de Pinturas, com sede em Medellín, departamento de Antioquia, com vendas anuais de US$ 219,33 milhões.
• A Invesa, com sede em Envigado, Antioquia, teve um faturamento de US$ 117,62 milhões.
• Coloquimica, com sede em La Estrella, Antioquia, com vendas de US$ 68,16 milhões.
• Sun Chemical Colômbia, com sede em Medellín, Antioquia, com vendas de US$ 62,97 milhões.
• A PPG Industries Colômbia, com sede em Itagui, Antioquia, teve um faturamento de US$ 55,02 milhões.
Paraguai
Entre os países da América Latina que devem crescer mais rapidamente está o Paraguai, que deverá expandir seu PIB em 4,2% este ano, após um crescimento de 3,9% no ano passado, segundo relatório da CEPAL.
“O PIB do Paraguai está estimado em US$ 45 bilhões no final de 2024, em valores correntes. Para 2025, as projeções indicam que o PIB do Paraguai poderá chegar a US$ 46,3 bilhões. A economia paraguaia cresceu a uma taxa média anual de 6,1% nos últimos quatro anos e ocupa a 15ª posição entre as maiores economias das Américas, à frente do Uruguai”, relata a World Economics, empresa de análise de mercado sediada em Londres.
A pequena indústria manufatureira continua sendo uma parte importante da economia paraguaia. “O BCP [Banco Central do Paraguai] estima que [2025] será um ano próspero para a indústria no Paraguai, com ênfase no setor maquilador (montagem e acabamento de produtos). A perspectiva para o setor como um todo é de crescimento de 5%”, informou a H2Foz, em dezembro de 2024.
O investimento em infraestrutura impulsionará ainda mais o setor manufatureiro no Paraguai.
“O Fundo da OPEP para o Desenvolvimento Internacional anunciou (em janeiro) que concederá um empréstimo de US$ 50 milhões ao Paraguai para cofinanciar a reabilitação, modernização e manutenção da Rodovia Nacional PY22 e estradas de acesso no departamento de Concepción, no norte do Paraguai. O projeto é cofinanciado com um empréstimo de US$ 135 milhões do CAF (Banco de Desenvolvimento da América Latina e do Caribe)”, noticiou o Middle East Economy.
A construção de estradas e novos hotéis ajudará o Paraguai a expandir seu setor turístico, que cresce rapidamente, com mais de 2,2 milhões de visitantes, segundo relatório da Secretaria de Turismo do Paraguai (Senatur). “Os dados, compilados em colaboração com a Diretoria de Migração, revelam um aumento substancial de 22% na chegada de visitantes em comparação com 2023”, informa a Resumen de Noticias (RSN).
O Caribe
Como sub-região, o Caribe deverá apresentar um crescimento de 11% este ano, em comparação com 5,7% em 2024, segundo a CEPAL (ver gráfico de projeção do PIB da CEPAL). Dos 14 países considerados parte da sub-região, a Guiana deverá apresentar um crescimento atípico de 41,5% este ano, em comparação com 13,6% em 2024, graças à rápida expansão da indústria petrolífera offshore no país.
O Banco Mundial relata que os recursos de petróleo e gás da Guiana são de “mais de 11,2 bilhões de barris equivalentes de petróleo, incluindo uma estimativa de 17 trilhões de pés cúbicos de reservas de gás natural associado”. Diversas empresas petrolíferas internacionais continuam a fazer grandes investimentos, o que levou ao início da corrida pela produção de petróleo no país em 2022.
O consequente aumento da receita ajudará a criar nova demanda para todos os segmentos de tintas e revestimentos. “Embora, historicamente, o PIB per capita da Guiana estivesse entre os mais baixos da América do Sul, o extraordinário crescimento econômico desde 2020, com média de 42,3% nos últimos três anos, elevou o PIB per capita para mais de US$ 18.199 em 2022, ante US$ 6.477 em 2019”, afirmou o World
Relatórios bancários.
De acordo com uma pesquisa do Google AI, as maiores empresas de tintas e revestimentos da sub-região incluem:
• Empresas regionais: Lanco Paints & Coatings, Berger, Harris, Lee Wind, Penta e Royal.
• Empresas internacionais: PPG, Sherwin-Williams, Axalta, Benjamin Moore e Comex.
• Outras empresas notáveis incluem a RM Lucas Co. e a Caribbean Paint Factory Aruba.
Venezuela
Apesar da riqueza em petróleo e gás natural do país, a Venezuela tem sido uma exceção política na América Latina por muitos anos, sob o governo do presidente Nicolás Maduro. A CEPAL prevê que a economia crescerá 6,2% este ano, em comparação com 3,1% em 2024.
A administração Trump pode estar a arrefecer essa previsão de crescimento com o anúncio, no final de março, de que os Estados Unidos irão impor uma taxa de importação de 25% a qualquer país que importe petróleo venezuelano, o qual representa cerca de 90% da economia do país.
O anúncio do imposto veio na sequência do cancelamento, em 4 de março, da licença da Chevron para explorar e produzir petróleo no país. “Se essa medida for estendida a outras empresas – incluindo a espanhola Repsol, a italiana Eni e a francesa Maurel & Prom – a economia da Venezuela poderá enfrentar uma queda acentuada na produção de petróleo bruto, redução na distribuição de gasolina, um mercado cambial mais fraco, desvalorização e inflação galopante”, avalia o Caracas Chronicles.
A agência de notícias cita uma recente revisão para cima das projeções da Ecoanalítica, que “prevê uma contração de 2% a 3% no PIB até o final de 2025, com uma queda de 20% no setor petrolífero”. Os analistas continuam: “Todos os indícios sugerem que 2025 será ainda mais desafiador do que o inicialmente previsto, com uma queda mais acentuada na produção no curto prazo e um declínio nas receitas do petróleo”.
Entre os principais importadores de petróleo venezuelano está a China, que em 2023 comprou 68% do petróleo exportado pela Venezuela, segundo uma análise de 2024 da Administração de Informação Energética dos EUA, informa a EuroNews. “Espanha, Índia, Rússia, Singapura e Vietnã também estão entre os países que recebem petróleo da Venezuela, mostra o relatório”, informa a agência de notícias.
“Mas mesmo os Estados Unidos – apesar das sanções contra a Venezuela – compram petróleo desse país. Em janeiro, os Estados Unidos importaram 8,6 milhões de barris de petróleo da Venezuela, segundo o Departamento do Censo, de um total aproximado de 202 milhões de barris importados naquele mês”, destacou a EuroNews.
No âmbito doméstico, a economia continua focada em melhorias habitacionais, o que deve impulsionar a demanda por tintas e revestimentos arquitetônicos. Em maio de 2024, o governo venezuelano comemorou o 13º aniversário do programa Grande Missão Habitacional (GMVV), celebrando a entrega da 4,9 milionésima casa para famílias da classe trabalhadora, segundo informações da Venezuelanalysis. O programa tem como meta a construção de 7 milhões de casas até 2030.
Embora os investidores ocidentais possam estar relutantes em aumentar sua exposição na Venezuela, os bancos multilaterais estão apoiando projetos de infraestrutura, incluindo o Banco de Desenvolvimento da América Latina e do Caribe (CAF).
Data da publicação: 08/05/2025

